sexta-feira, maio 10, 2013

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras"

Diz Paulo Freire em sua Pedagogia do Oprimido que não é possível manter uma relação dialógica com quem não comungue com o seu projeto ideológico. Pensava que existia um certo radicalismo nessa assertiva, até que ontem percebi que o educador pernambucano estava correto. Nietszche diz também em um dos seus livros que "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras". 

Faço essa divagação, pois ontem tive o desprazer de tentar estabelecer um diálogo com um sujeito o qual estudei em um seminário teológico. Nos anos de seminários, notava o quanto o sujeito era "quadrado", radical; o quanto baseava seus argumentos em convicções extremadas. Ontem, pelo Facebook, fiz uma correção a uma afirmação sem fundamento histórico colocada por esse ex-colega e ele me respondeu com uma ironia despropositada. Além do que, enviou-me um texto que, quando li, dei grandes risadas.

O texto busca desqualificar o marxismo, fazendo uma mixórdia de afirmações desencontradas. Fiquei com a impressão irônica de que a principal função de Marx era perseguir o cristianismo e acabar com a religião de Paulo. Um verdadeiro desbunde. Imaginei, ainda, que (se eles - construtores de teologias alienígenas - leram os textos de Marx) eles haviam lido outros textos, que não aqueles escritos pelo autor de O Capital. O nome dado pelos adeptos desse radicalismo esquizofrênico é "marxismo cultural". Marxismo cultural seria o movimento de cunho cultural, alimentado por intelectuais e pelos meios de comunicação de massa para arruinar os valores judaico-cristãos. 

 O que me chamou atenção foi a incapacidade do sujeito ler os fatos por uma perspectiva crítico-dialética. Ele se diz professor de Filosofia no estado do Maranhão. Temi pelo que o sujeito anda ensinando para os sues alunos. Afinal, ele colocou o socialismo, o nazismo e o fascismo na mesma esteira de comparação. Ele ignora o fato de que foi a União Soviética que derrotou o nazismo. Não quero entrar no aspecto do socialismo real implementado pela União Soviética, já que sempre associam o socialismo às ditaduras variadas. Todavia, vivemos, também, uma ditadura muito bem-disfarçada sob a égide da democracia e da liberdade.

Indicou-me alguns escritores aos quais já tive a oportunidade de conhecer - Peter Kreeft, Olavo de Carvalho, Nancy Pearcey, Charles Colson, William Craig, John C. Lennox. A maioria deles, da direita ultra-conservadora dos Estados Unidos. Ou seja, defensores da política de Bush.

O que me deixa impressionado é saber como um sujeito que se arroga a ser formador de opinião se mostra tão míope. Sua preocupação mais intensa é o movimento homossexual. Desconhece o sujeito que os valores morais  seguem a lógica de cada momento da dialética da história. E que a própria sociedade judia possuía os seus valores e esses foram cristalizados no tempo pelo movimento religioso que dogmatizou os seus aspectos culturais. Impressiona-me como os valores culturais de uma determinada sociedade, no caso a judia, por meio dos valores ditos bíblicos, cegam um ser humano ao ponto de descaracterizar, distorcer a própria realidade em que vive. Impressiona-me perceber que, como no Mito da Caverna de Platão, alguém enxerga o mundo por meio de sombras. Assusta-me o nível de embrutecimento gerado pelas convicções da fé. Isso explica, por exemplo, a atitude de um homem-bomba ou a capacidade de ser implacável com os diferentes. 

Paulo Freire e Nietzsche me fizeram entender um pouco mais sobre a natureza do humana, demasiado humana.

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