segunda-feira, julho 08, 2013

"O amante", de Marguerite Duras, algumas impressões

Marguerite Duras
"Muito cedo na minha vida ficou tarde demais" 
Marguerite Duras

O único livro que li de Marguerite Duras, O amante, passou-me uma impressão positiva sobre essa escritora. O amante é um dos seus livros mais conhecidos. Segue uma "tendência" muito recorrente em sua obra que é a abordagem auto-biográfica. O livro é do ano de 1984 e se tornou uma das suas principais obras - se não a maior.  Duras escreveu aos 70 anos esse relato sobre sua juventude. Estreara na escrita em 1943. Mas o livro de 1984 é uma obra de grande importância para a sua carreira. Foi com O amante que a escritora chegou ao ápice da produção, sendo que ele foi traduzido para mais de 40 idiomas. Vale mencionar que O amante da China do norte - que retoma o mesmo tema -  também possui uma importância fundamental para a sua obra. 

Outro trunfo da escritora é a aventura cinematográfica. Ela escreveu bons roteiros para o cinema. Entre esses roteiros se destaca Hiroshima, meu amor, indicado ao Oscar na década de 60. O amante, por sua vez, é permeado pelos temas oriundos do seus nascimento em Saigon, antiga capital do Vietnã, quando este era uma colônia francesa. 

Duras nos coloca diante de um estilo que é uma espécie de junção dos excertos para um primeiro romance. O livro possui uma narrativa fragmentária, explorando o viés da jovem subvertida pela paixão. Ora nos coloca diante das relações de uma sociedade pobre na qual a mãe da personagem não possui os privilégios de alguém da metrópole europeia e tem que lutar pela sobrevivência junto com os nativos; ora os ecos de uma sociedade que é um misto de ruralização e subdesenvolvimento. O estilo da francesa é uma dança de avanços e digressões. Em alguns momentos ela usa a terceira pessoa se distanciando da narrativa; em outros, usa a primeira pessoa e se coloca como personagem da obra. Outro aspecto é o avanço e o recuo no tempo, fazendo digressões inusitadas. O leitor pouco afeito a livros assim sente dificuldades com relação à manutenção do eixo temático da obra. 

Duras ainda insere as dificuldades relacionais dos irmãos, tão antagônicos. A força bruta e a irracionalidade castrante do irmão mais velho. E a delicadeza do irmão novo. A escritora é dona de um estilo que prima pela concisão, pela economia nas explicações. Ela é frugal. Não coloca o excessivo. Extrai tudo aquilo que torna o texto enviesado. Existe uma crueza em sua forma de narrar. Ao mesmo tempo em que busca a concisão, expõe, com nudez, o realismo de uma paixão que não era apenas física com o chinês Cholen. A relação desenvolvida era existencial. 

Nesse sentido, Duras alarga as dimensões do seu romance e abrange também um debate social, já que naquela sociedade era inadmissível uma branca europeia se envolver com alguém rico a não ser pelo prisma do preconceito. aqui nota-se o debate inter-racial estabelecido pela obra. Assim, mesmo com essa forma tão peculiar e "seca" de narrar, como se o uso do adjetivo e de toda caracterização fosse um gesto inaceitável, Duras deixa-nos vislumbrar pelas frestas de sua narrativa as relações sociais de uma sociedade oriental tão diversa do mundo europeu. 

Comprei, hoje, na livraria da Saraiva, pela internet, o livro O amante da China do norte, pois me bateu uma curiosidade maior pelo seu estilo. O que me atraiu em Duras não foi a história em si, mas a forma de narrar da escritora. 

Blumenau-SC

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