Que lucidez! É justamente essa mesma classe
média que, hoje, busca "arrancar" o PT do poder. Como diz a Marilena
Chauí, "os programas sociais dos últimos dez anos balançaram a cabeça da
classe média", pois ela viu pobre ir para aeroporto - gente
que ela via pelo vidro do carro nas periferias, nas favelas; gente que
não tinha perspectivas e passou a frequentar a faculdade. Então essa
mesma classe média entrou em pânico, pois sentiu que o seu espaço foi
invadido. E se existe um medo que terrifica a classe média é o medo da
proletarização. Pois ela é patrimonialista, privatista dos espaços
públicos. Dentro do seu carro, ela se sente "blindada" do mundo. Ela é
funcionalista em essência e acha que a ordem do mundo e da história se
auto-regulam. E tudo aquilo que é colocado como contradição e,
necessariamente, altera essa ordem, é visto como uma ameaça à
estabilidade. Talvez isso explique o desejo sanguinário pela redução da
maioridade penal; ou a adoção da pena de morte; e a criminalização aos
movimentos sociais.
Pois ela entende que ordem e a propriedade devem ser
defendidos pela repressão. Olhando o cenário eleitoral atual,
entende-se claramente o desmazelo da candidatura do Aécio, que não
decola (claro, somente os aviões do aeroporto particular da família
construído com dinheiro público); e como a Marina é o nome possível
capaz de derrotar o Governo do PT, criou-se um entusiasmo em torno do
nome dela. O que está em jogo é um projeto de desmantelamento do Estado
brasileiro e a destituição de um Governo que tirou mais de 40 milhões da
linha pobreza; e trouxe ao debate temas caros à sociedade brasileiro,
claro, apesar de ter silenciado em outros em nome da governabilidade. Se
fosse outro nome que estivesse no lugar da Marina e fosse capaz de
derrotar o PT, esse nome teria apoio. Se um poste ou uma árvore, o poste
e árvore seriam eleitos, "pois se vence o PT, então eu quero". O
ex-colunista da Veja, Diogo Mainardi, já se posicionou dizendo que é
Marina até a posse da candidata. Diante dos fatos, é preciso distinguir
os acontecimentos. Daí os conceitos sobre a classe média de abominação
ética, porque violenta e conservadora; abominação política, porque
fascista; e abominação cognitiva, porque ignorante. Ser classe média não
é apenas um dado estatístico, mas também uma condição moral.
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