sexta-feira, agosto 01, 2014

"Max Cavalera - my bloody roots", uma autobiografia

Quando estive em Gramado, no mês de junho, comprei a autobiografia de Max Cavalera, ex-vocalista do Sepultura, e atual líder do Soulfly e Cavalera Conspiracy. Adquiri o livro e li-o com um devotado interesse. É estranho - e parece está longe de minha personalidade - mas gosto do Sepultura e tudo aquilo em que o Max colocou as mãos a fim de construir um projeto musical - até mesmo o Nailbomb. A única coisa que não escutei - e nem ganhei intimidade - foi o Soulfly. Como já deixei claro, algumas pessoas indagam: "como você consegue ouvir o Sepultura?" Respondo: "Sei lá!".

Não escuto qualquer Sepultura. Escuto o Sepultura de Max Cavalera. Aquele que encerrou com o Roots, em 1996. O atual Sepultura é um cover de uma banda que um dia foi uma das maiores bandas de rock da década de 1990. 

Lendo o livro Max Cavalera - my bloody roots (Ed. Agir), eu pude perceber o lado bastante humano do vocalista, originário de Belo Horizonte. Max viveu única e exclusivamente, em toda sua vida, da música. Começou o Sepultura com o seu irmão Igor Cavalera. Mais tarde entrariam Paulo e Andreas. A banda aos poucos foi adquirindo respeito e fama no cenário local; e chegou a ter um relativo respeito em shows feitos no Nordeste e em São Paulo. Gravou o primeiro disco em 1985 (Bestial Devastation), pela Cogumelo Records, algo que se repetiria com os próximos dois álbuns - Morbid Visions (1986), que tem a excelente Troops of Doom e Schizophrenia (1987), que mostra uma banda que viria se tornar um fenômeno mundial. É curioso perceber que a cada novo disco, a banda conseguia se superar fazendo tecnicamente um melhor que o outro.

A partir do quarto disco (Beneath the Remains - 1989), o Sepultura começou a gravar com a poderosa Roadrunner. Beneath the Remains é o disco que notabilizou a banda. A música Inner Self é a música mais poderosa do disco. O disco possui uma pegada à la Metallica - talvez aí residisse o dedo do Andreas, que era um fã inveterado do grupo americano. Em 1991, seria produzido o Arise, ao meu modo de ver, o melhor disco do grupo mineiro. Arise mostra o amadurecimento vocal de Max e a força do riffs poderosos e primitivos.  

Três anos após Arise, sairia o álbum mais bem produzido da banda, o Chaos A.D. Se não estou enganado e li de forma equivocada no livro, o produtor de Nervemind, do Nirvana, foi o sujeito escalado pela Roadrunner para gravar Chaos A.D. A qualidade do som é notável.  Em 1996, sairia, talvez, a obra-prima da banda - Roots - gravado junto aos Chavantes, de Mato Grosso. O disco é sensacional! Para gravar o disco, a banda teve que ir para o meio da floresta. O resultado mostra o quanto a criatividade de Max e dos músicos do grupo estava em alta. Músicas como a bela, lírica(sic.) Jasco ou Itsari são delicadas, ao mesmo tempo em que trazem consigo a força milenar da tradição espiritual dos índios. Ou ainda as pesadas Attitude, Straighthate ou Ambush, que são viscerais.

É possível notar até aí o engajamento político da banda, que falava sobre guerras por territórios, por conflitos (Territory); ou sobre a ganância de sujeitos que queimam e destroem a Amazônia (Ambush). Após o disco e, no auge da carreira dos músicos, Max veio a saí do grupo por causa de desentendimentos com os outros integrantes. Segundo Max, os outros membros estavam insatisfeitos com a visibilidade que ele, Max, tinha. Os outros três músicos alegavam que Glória - esposa de Max e empresária da banda - estava privilegiando o marido. 

Acredito que a partir desse ponto, começa outro Sepultura, um Sepultura caricaturesco com Derick Green. Quem escuta o Sepultura de Max logo percebe a diferença. Eu nem sei quais foram e quantos são os discos da banda lançados após a saída de Max. Não tenho coragem para ouvir. Andreas ainda continua um grande guitarrista e Paulo consegue realizar o trabalho como sempre fez.

O que mais me chamou a atenção no livro foi o quanto a morte do pai marcou a vida do músico. Parece-me que ele passou boa parte da vida procurando por algo que se foi quando o pai morreu. Tornou-se um viciado em medicamentos, vício este, que segundo ele, teve fim em 2009 quando ele esteve internado em uma clínica. Outro ponto curioso é a sua fé em Deus. Ele fala em Deus em boa parte do livro. 

Max atualmente mora no Arizona, Estados Unidos, e segue com vários projetos. É uma lenda do rock mundial. Segundo ele, foi possível ir tão longe por causa de sua família. Na parte final do livro existe uma linda reflexão dele sobre o valor dos filhos e da família. Para ele, de que vale a vida se você não para para ser e viver com gente; se você não para a fim de amar os seus.

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