quinta-feira, agosto 30, 2018

A promessa Greta van Fleet

O rock é um movimento bastante curioso e dinâmico. Ele constantemente se reinventa. Uma determinada tendência acaba sendo absorvida por outra - ou, simplesmente, abre espaço para que outra surja. Foi assim, por exemplo, com o rock feito na primeira metade dos anos 70. Logo em seguida, veio o punk, um movimento completamente novo, com uma nova estética e um novo apelo. O punk, por sua vez, não cedeu a vez tão facilmente, esteve presente no pós-punk e na new wave do anos oitenta. Já na década de 90, contribuiu para o surgimento das bandas do movimento grunge. 

Embora seja um movimento bastante heterogêneo, o grunge possui um forte apelo punk. Escrevo assim para ilustrar um fato curioso. Pois, às vezes, o rock aponta para os locais já visitados, para as paisagens já conhecidas. Cheguei a esse conclusão rala após escutar a banda estadunidense Greta van Fleet. Trata-se de um quarteto formado por três irmãos (baixo, guitarra e baixo) e o baterista. A banda vem da região norte do país, do industrializado estado do Michigan. Ao ouvir, o nome pela primeira vez, ao invés de ouvir "Fleet", eu pensei ter ouvido "Flint", a cidade natal de um poderoso trio do rock setentista, Grandfunk Railroad, também do Michigan.  

O Greta van Fleet não olha para frente. O seu alvo é o rock produzido na primeira metade dos anos 70, o bom e velho hard rock, com fortes pitadas de blues rock. A banda é bastante nova. Os garotos não aparentam ter mais do que vinte anos. Ao ouvir o EP "From the Fires", fiquei contaminado por aquilo. A primeira canção ("Safari Song") nos remete imediatamente a Robert Plant. E toda aquela força saída de um garoto. Movido pela curiosidade, procurei um vídeo no Youtube e fiquei com os olhos grudados ininterruptamente por quarenta minutos, assistindo a um apresentação dos talentosos muúsicos. 

A tradição do velho e bom rock n' roll soprando mais uma vez. A apresentação mostrou muita consistência. O vocal é poderoso. O baterista é bom. O baixista sustenta bem a estrutura da música. E o guitarrista faz bem o dever de casa. No conjunto, o som possui grande densidade. Safari Song me remeteu a Custard Pie ou Travelling Riverside Blues, do Led Zeppelin. A segunda canção do disco ("Edge of Darkeness") é outro soco de bom gosto. Impressiona. E a terceira faixa ("Flower Power"), faz lembrar, principalmente, na parte final, quando surge o som de um órgão, a famosa faixa do Zep II, "Thank you". Há ainda a excelente "Highway Tune", que faz lembrar "Misty Mountain Hope" ou remotamente "When the levee breaks", do Zep IV. Há ainda outras três faixas graúdas "Meet on the ledge", "Talk on the street" e a música de trabalho "Black smoke rising"

Enquanto escutava os jovens do Michigan, fiquei me questionando sobre a questão da autenticidade, da originalidade. Esse é quesito que a banda deixa a desejar. Mas eu não ligo. O importante é que o quarteto se propôs a fazer algo e o fez muito bem. O álbum é graúdo, repleto de densidade. As melodias são bonitas. Os arranjos são bem trabalhados. Os vocais empolgam e a banda possui um carisma bem característico daquela geração que produziu uma das safras mais importantes da história do rock, momento este que viu surgir bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, UFO, Free, Uriah Heep etc. Resta-nos apenas o aceno da paciência para perceber o trabalho do tempo. Ou seja, o amadurecimento da banda, dos vocais poderosos do jovem Joscha Riszka e dos seus irmãos inspirados. 

Por enquanto, deliciemo-nos com excelente EP lançado ano passado. Parece que a coisa saiu do fogo do rock setentista. Foi burilado pela mãos dos deuses do rock. 

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