Por Luis Felipe Miguel via Facebook
O "Novo" (sic) é um fenômeno ilustrativo. Ele nos permite avaliar quão muderna e iluminada é a nossa burguesia.
A
fundação do partido parece responder ao desejo do Itaú Unibanco de não
pagar mais pedágio para a elite política tradicional e governar
diretamente. Um partido, digamos assim, militantemente antibonapartista.
"Todo poder à burguesia".
Com um reluzente
plantel de multimilionários na sua direção, o "Novo" queria ser o arauto
do credo ultraliberal, em sua forma mais descontaminada e
intransigente. Seria um mostruário da sofisticação intelectual,
competência gerencial e honestidade a toda prova - quanto não tentada
pelo etos corrupto da elite política - da nossa classe capitalista.
Como
demonstração mais cabal da seriedade do partido-empresa, foi instituído
um "processo seletivo" para possíveis candidatos. Só tem direito de
envergar a camisa alaranjada do "Novo" quem é aprovado por uma banca,
que avalia currículo e aplica uma prova escrita. (Também é necessário
pagar uma taxa, de 300 ou 600 reais dependendo do cargo, "não
reembolsáveis". O "Novo" aceita cartão.)
Agora
candidato a presidente, ganha maior visibilidade João Amoêdo, o
inspirador, chefe e acionista principal do "Novo" - dados indicam que
ele investiu mais de 4 milhões de reais no partido, enquanto nenhum dos
outros banqueiros associados colocou mais do que 250 mil. E quem é ele?
Em
vez do sofisticado intelectual libertariano que era prometido, temos um
troglodita de terno e gravata, que repete mecanicamente sua profissão
de fé nas virtudes do mercado, indiferente às consequências humanas,
incapaz de ver como pessoas aqueles que são jogados às margens. O Estado
não pode intervir nem mesmo para impedir as injustiças mais gritantes,
os serviços públicos devem ser abolidos, tudo deve ser privatizado. Não
dá para perceber diferença entre Amoêdo e Flávio Rocha, por exemplo.
Ambos são reprodutores do mesmo discurso tacanho.
Na
verdade, o fundamentalismo de mercado de Amoêdo e o fundamentalismo
cristão do Cabo Daciolo, por mais diferenças que possam apresentar,
indicam a mesma incapacidade de raciocínio complexo e a mesma adesão a
dogmas invulneráveis ao embate com a realidade. Sinto mais simpatia pelo
Cabo, imerso em sua própria desrazão, do que pelo banqueiro janotinha,
que tira proveito de seu próprio discurso e com quem a gente nunca sabe
onde termina o fanatismo e começa o cálculo.
Falei
que Amoêdo é um troglodita de terno e gravata, mas não é mais assim. Ao
entrar em campanha, ele passou a envergar camisa polo e suéter. Seu
site pretende que ele seja chamado de "João". (Risos.)
Mas
não é só a imagem. A rigidez doutrinária libertariana não resistiu à
política real e hoje o "Novo" está pronto a aceitar a defesa da censura,
a limitação dos direitos individuais, o conservadorismo tradicional.
Seus candidatos, aqueles mesmos que pagaram todas as taxas e passaram no
rigoroso processo seletivo, parecem saídos da tropa de choque
bolsonariana. Ricardo Salles, uma das principais apostas do partido para
a Câmara dos Deputados em São Paulo, escolheu um número de candidato
que faz alusão a calibre de projéteis de rifle e distribui material de
campanha sugerindo o fuzilamento da esquerda. Diego Dusol, que também
concorre a deputado federal, mas na Paraíba, promete tornar o aborto
"crime hediondo" e liberar completamente o acesso a armas: "mais que um
fuzil, fazendeiros e agricultores poderão adquirir um tanque de guerra"
(não estou inventando, é citação literal do material de campanha dele).
Este
é o "Novo". Talvez seja o que de pior existe na política brasileira
hoje. Pior até do que Bolsonaro. Filhotes mimados da burguesia
brasileira brincando de fazer política e se achando imensamente
superiores a todo o resto da sociedade. Ao contrário de Bolsonaro, eles
nem sequer desconfiam do quão toscos são.
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