
O filme proporciona uma experiência tão densa que, após tê-lo visto, tenta-se reorganizar o caos mental, a experiência dorida a qual se enfrentou. De certa forma, ainda estou tentando ordenar os vários elementos, ou seja, cada peça que constitui a obra. Trier prende o telespectador, machuca-o, fere-o com cenas de violência, de uma eroticidade acachapante, de uma uma plasticidade quase que desnecessária. Mas como disse, nada no filme é desnecessário.
A príncipio, a histó

Do evento trágico da morte do filho, desencadea-se o sofrimento para o casal. A mãe se ver aturdida pela dor e pelo desespero. É acometida por distúrbios psicológicos. E aqui começa de fato a viagem bíblica e psicanalítica proporcionada pela obra. Os personagens não possuem nome. Estão presente no filme a força do homem (a inteligência), contra o impulso da mulher (a demência). O marido mostra-se no filme como a energia racional, capaz de pensar os processos, de organizar o caos. É quem conduz, do ponto de vista da psicanálise, o tratamento psicológico da esposa. E é curioso o fato do casal se refugiar no interior de uma cabana chamada Éden, no coração de uma floresta. Éden segundo a Bíblia significa "paraíso" ou "jardim das delícias" e foi o local criado por Deus para que nele morasse e vivesse o primeiro casal humano - Adão e Eva. É somente após a queda, acepção bíblica, que a mulher recebe o nome de Eva. Ou seja, antes da queda ela não possuía nome. Já o homem é considerado "o pai de todos os homens" - Adão, do hebraico "adamar" ou "aquele que foi tirado da terra".

Éden, no filme de Trier, é o lugar da tentativa de cura, da busca pelas lembranças prazerosas e remidoras. Mas é em meio à natureza que os medos e reações mais intempestivas da esposa se voluntarizam. Cena curiosa e instigante é aquela que a esposa escuta um choro de uma criança. Ela procura em toda parte, mas não encontra nenhum personagem para protagonizar aquele vagido. De repente, a câmeta foca a netureza. A imensidão é mostrada. É a pópria natureza que chora. Uma agonia cósmica, metafísica, se insinua. A dor, então, é uma faceta natural do cosmos. Uma frase enunciada pelo marido no início do filme parece corroborar com esta ideia: "O sofrimento não é uma doença. É uma reação saudável e natural".
Na floresta, em meio à natureza, os instintos mais tenebrosos da esposa se avivam. Ela um ser frágil, vai adquirindo uma energia animalesca, pornográfica. Sua ânsia por sexo é um retrato curioso. Numa cena, ela atinge o falo do esposo com um objeto e este, com a dor, acaba desmaiando. E o que se sucede até o final é de uma audácia incrível. Numa cena de demasiada crueza, a esposa mutila o próprio clítoris com uma tesoura e tenta matar o marido. O marido como para se libertar da pulsão de destruição da esposa, acaba por enforcá-la e matá-la. Esse ato representa a liberdade. Ele fica livre da dor, da agonia, do selvagem que habita o feminino.
No "Prólogo", após ter mata

Lars von Trier tem gerado as mais distintas reações com os seus filmes. Polemista, "arengueiro", como se diz no Nordeste do Brasil, o diretor dimarquês tem arrancado uma beleza descomunal de suas obras. Os filmes de Trier possuem o poder de nos fazer pensar por dias. É daquelas obras que encerram efeitos densos. Deixando de lado maiores polêmicas quanto às suas afirmações sobre posicionamento político ou postura pessoal (o diretor se intitulou como o melhor do mundo e, em outro momento, disse admirar Hitler), Trier é um dos nomes mais importantes da arte cinematográfica da atualidade. Incensado por uns, odiado por outros, o diretor alimenta aquele tipo de sentimento que reside em torno dos grandes artistas.
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