
Alguns críticos dizem que se trata do filme mais "fraco" de Kubrick. Discordo. Quando se trata de Kubrick tudo é um detalhe a ser observado. Fico refletindo por horas e horas como um filme como Lolita, sem efeitos mirabolantes, sem as técnicas computadorizadas da atualidade apreende a atenção do telespectador por duas horas e meia. E chego à conclusão: o que nos prende é a maestria das cenas, das falas, da habilidade dos atores, do enredo muito bem urdido, amarrado; da história muito bem construída. As cenas iniciais do filme são de um drama fascinante.
O professor de literatura francesa, Humbert Humbert, invade a mansão do produtor de cinema Clare Quilty, com um revólver, disposto a fuminá-lo. O diálogo do professor com o produtor de cinema é genial. Digno dos grandes suspenses. Longo em seguida, a obra nos conduz por um flash back, o que de fato nos insere na história. O ponto crucial é saber que o professor Humbert fica obcecado por Lolita, uma adolescente envolvente. É capaz de casar com a mãe da adolescente para ficar próximo da menina. Escreve num diário sua obsessão pela adolescente. A mãe da garota descobre e fica transtornada. Sai de casa em disparada e acaba sendo atropelada. Morre. Daí, a obra toma características de um road movie. Humbert sai em viagem com a garota.
A obra possui um eixo estrutural muito bem realizado, possuindo diversas qualidades literárias. Vai do início dramático, a um romance de menor significância, quando o professor se estabelece e passa a morar com a mãe de Lolita. Depois, como aludido acima, passa para um road movie, com uma curiosa viagem de carro. Logo em seguida, de forma extraordinária, revesa para o mistério, quando o professor Humbert e a jovem começam a ser persguidos por um sujeito oculto. A obra nos posiciona à frente de uma tensão repleta de curiosidade. E depois somos colocados numa atmosfera policial.
O que observei em Lolita foi a acapacidade do diretor de tornar um telespectador num "semipersonagem" da história. Vale ressaltar que para isso ocorresse, a atuação do ator James Mason, que fazia o papel do professor Humbert, foi crucial. Seus diálogos são de uma visceralidade incrível. Se Lolita é uma obra "menor" de Kubrick, imagine o que ele é capaz de fazer com as obras "maiores" ?
Que pena que na atualidade não tenhamos outros Kubricks.
Cenais iniciais do filme: os traços do gênio. O carro rasgando a estrada com a paisagem repleta de névoa branca. As árvores desnudas e cadavéricas... Ah! Kubrick...
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