
"O tempo é um problema para nós, um terrível e exigente problema, talvez o mais vital da metafísica; a eternidade, um jogo ou uma fatigada esperança"
(Jorge Luis Borges, in História da Eternidade, p. 6)
"Rubayat
Volte em minha voz a métrica do persa
A recordar que o tempo é a diversa
Trama de sonhos ávidos que somos
E que o secreto Sonhador dispersa.
Volte a afirmar que é a cinza o fogo,
A carne o pó, o rio o fugidio
Reflexo de tua vida e de minha vida
Que lentamente se nos esvai logo.
Volte a afirmar que o árduo monumento
Que constrói a soberba é como o vento
Que passa e que, à luz inconcebível
De Quem perdura, um século é um momento.
Volte a advertir que o rouxinol de ouro
Canta uma única vez no sonoro
Ápice da noite e que os astros
Avaros não prodigam seu tesouro.
Volte a lua ao verso que tua mão
Escreve como transforma no temporão
Azul o teu jardim. A mesma lua
Desse jardim há de procurar-te em vão.
Sejam sob a lua das ternas
Tardes teu humilde exemplo as cisternas,
Em cujo espelho de água se repetem
Umas poucas imagens eternas.
Que a lua do persa e os incertos
Ouros dos crepúsculos desertos
Voltem. Hoje é ontem. És os outros
Cujo rosto é o pó. És os mortos".
(Jorges Luis-Borges, in Elogio da Sombra, p. 24)
"Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem o pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de constatação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria tempo presente".
(Santo Agostinho, in As Confissões p. 322)
Nenhum comentário:
Postar um comentário