segunda-feira, janeiro 02, 2012

José Lins do Rego e a viagem pelo clássico

José Lins do Rego é um bom contador de histórias. Seu regionalismo possui uma riqueza descritiva incrível. Li talvez três ou quatro livros do escritor paraibano. Não me recordo muito bem. Resolvi, por estes dias, lê mais três - Pureza, Meus verdes anos e Doidinho. O que me levou a lê-lo ou revisitá-lo é uma doce sensação do cheiro da minha infância.

Viajarei para a Paraíba, terra natal do escritor; e, logo em seguida, irei visitar os meus parentes em Pernambuco. Enquanto escolhia os livros (pois cheguei a cogitar a possibilidade de leitura de O Muleque Ricardo, Fogo Morto, Cangaceiros, Riacho Doce, Banguê ou Usina), estabeleci um parâmetro: quis fazer a leitura de algo que tivesse uma relação profunda com a minha infância. A literatura regionalista e, em especial a de José Lins, é um dos momentos mais ricos da história daquilo que já foi escrito em nossas letras. Os escritores regionalistas buscaram retratar com um realismo vivo a sina do sertanejo - suas dores, sonhos, supertições, ignorâncias e grandezas. O domínio sobre o estado psicólogico dos personagens, a espontaneidade da narrativa, a limpidez do estilo, a a habilidade para recriar a ambientação dos personagens sempre inculcaram em mim o apreço pelos textos do autor de Menino de Engenho.

José Lins é um escritor memorialístico. As visões e experiências apreendidas na infância servem de pano para a tecitura dos seus escritos. Escolhi Meus verdes anos e Pureza, simplesmente, por estes livros resvalarem em minha infância nordestina. Não esqueço o que vivi, nem o que fui-sendo. O universo rural é impingidor de experiências e sensações que se prolongam por toda a vida. Deve ser por isso que cresci com essa propensão pelo saudosismo. Sinto ecos daquilo que fui reverberando aqui dentro de mim. É como uma luz que se prolonga no vácuo e vai indo, indo, indo...

Outro fato:

É curioso ler um livro tido por clássico. O clássico, como diz Ítalo Calvino em Por que ler os clássicos, é aquele tipo de livro que geralmente nos dá a sensação de o estarmos lendo pela primeira vez. Ou: "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados inéditos". Os efeitos singulares daquilo que já se tornou clássico vive ainda mais em José Lins. Lê-lo com esse duplo efeito - (1) clássico, o livro que se reinventa; (2) e estar na condição de um viajante à terra da infância, sendo o cheiro do passado por intermédio da pena caprichosa e habilidosa de José Lins do Rego - é ser acometido duas vezes pelo deleite.

Vamos à Paraíba; vamos a José Lins; vamos aos clássicos.

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