segunda-feira, agosto 20, 2012

É mais fácil acreditar naquilo que achamos que é a verdade

Carl Sagan foi um dos sujeitos que mais contribuíram com a ciência no século XX. Apesar de ter morrido no ano de 1996, a influência de Sagan permanece viva. Ele contribuiu efetivamente com o avanço do conhecimento científico e inspirou pessoas em todo mundo a buscarem o conhecimento e a fugirem da ignorância que apenas aprisiona e promove cadeias. Atualmente, estou lendo o seu estupendo livro O mundo assombrado pelos demônios e tenho tomado grandes "sustos". Falo em "sustos", pois o livro nos coloca situações a fim que percebamos o quanto estamos cercados por falácias de todos tipos que existem como verdades insofismáveis. A leitura tem sido lenta por causa dos vários compromissos diários, mas todas as vezes que tenho a oportunidade de lê-lo, bafeja sobre mim uma sensação de prazer profundo.

Por exemplo, hoje lendo o capítulo 12 do livro acima mencionado ("A arte de refinada de detectar mentiras"), encontrei uma afirmação extraída do livro Novum Organum (livro que tenho) (1620) do filósofo Francis Bacon. Nesta afirmação, Bacon, inventor do método experimental e do empirismo,  enfatiza o quanto a nossa percepção é falível e o quanto somos influenciados pelos nossos afetos. Belíssima a afirmação do filósofo:

A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciência que podem ser chamadas "ciências conforme a nossa vontade". Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por supertição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento.

Abaixo, um maravilho poema do Drummond para adensar ainda mais o tema:

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade.
Porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
Carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Um comentário:

Anônimo disse...

profesor o testodo senhor e muito esperto, acho vose fantasticu

De: marcos cesar ferreira