sábado, agosto 11, 2012

Los Olvidados ("Os esquecidos"), de Luis Buñuel

Vi hoje à tarde, o filme de Luis Buñuel Los Olvidados (em português "Os esquecidos"), de 1950. É o primeiro que vejo do cineasta espanhol. As frases iniciais da obra servem como epígrafe e aviso: "As grandes cidades modernas,  Nova Iorque, Paris, Londres escondem, sob sua riqueza, lares miseráveis onde crianças sub-nutridas, sem saúde, sem escola, estão sentenciadas ao crime. A Sociedade tenta achar uma solução, mas o sucesso deste esforço é muito limitado. Só num futuro próximo poderão ser reivindicados os direitos da criança e do adolescente". É como se a voz que narra as cenas iniciais nos lançasse em um enredo naturalista e não polpasse nenhum dos personagens. A crueza das cenas se mescla à pobreza excessiva.

O filme se passa na Cidade do México. Em um meio infesto, crianças e adolescentes revolvem-se na miséria e a única saída é o delito. A obra parece não ter uma personagem central. Todas as persongens possuem uma relevância crucial. É como se cada uma delas estivessem amarradas a um eixo central de onde emana a história. E esse eixo central é o drama social da pobreza. A mãe que tem a missão diária de alimentar os filhos. O ex-detento (Jaibo) que sai da colônia correcional e forma um grupo de contraventores que nos faz lembrar os" druguinhos" de Laranja Mecânica, que seria gravado mais tarde por Kubrick. A luta constante para conseguir algo para comer. O vício do pai alcóolatra. O cego que anseia pela justiça cega do Estado.Os vendedores ambulantes no grito diário para vender as suas mercadorias.

Outro aspecto curioso são as gotas surrealistas que surgem na obra. Durante muito tempo, Buñuel foi influenciado por Salvador Dali e levou essas influências para as películas que produziu. Em Los Olvidados o sonho da personagem Pedro é eminentemente surrealista. A trascendentalização e os aspectos simbólicos do jogo de imagens realça essa influência de Luis Buñuel.

O certo é que Buñuel, que foi morar na Cidade do México em 1946, deve ter se impressionado com a realidade da capital mexicana. Daí deve ter surgido a necessidade de produzir um filme que abordasse esse lapso social, nos quais as crianças e adolescentes são as grandes vítimas. Essa triste realidades, passadas seis décadas, continua a mesma em muitos centros urbanos ao redor do planeta. Buñuel coloca-se aqui como um crítico contudente. Certamente, muitos militantes da esquerda devem ter se apropriado da temática do filme para ensejar debates. Os esquecidos não seriam apenas aqueles que se encontravam na capital mexicana, em um país pobre da América Latina, mas, sobretudo, em qualquer lugar do mundo.

Excelente filme. Se não estou enganado, ainda possuo alguns outros filmes de Buñuel: O anjo exterminador, A bela da tarde, O discreto charme da burguesia etc. Não lembro de outros. Procuremos e assistamos.

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