sexta-feira, agosto 10, 2012

Reflexões natalícias III - o tempo como grande artífice

O astrofísico brasileiro Marcelo Gleiser diz algo belíssimo em seu livro  O fim da terra e do céu sobre o tempo. Segundo ele, "um mundo sem movimento é um mundo triste, fadado a jamais se reinventar. O tempo é a ausência de perfeição". Ou seja, o tempo nos lança em um dinamismo, em uma ciranda; em um cipoal de movimento e é a consciência do tempo o artífice que nos molda. Para ele, a eternidade é a ausência do movimento. Agostinho afirmou certa vez que "a eternidade é o eterno presente". O estático. A ausência de movimento; de um fluxo dinâmico que atualize e se posicione entre o que passou e o que será.

Quando penso sobre o tempo, penso em coisas admiráveis - ainda evocando Santo Agostinho. Ao contrário da expectativa de Agostinho que viveu boa parte da vida pensando na eternidade, penso na terra, penso na dialética da história, que me trouxe até à casa dos 33 anos. Há 33 anos eu nasci, num dia de quinta-feira como este, às 11:15 hs da manhã, no Engenho Cacimba, município de Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Quando pensava em minha idade há algum tempo atrás, achava o momento natalício um grande martírio. Curei-me disso. Hoje, aos 33 anos, aceito a vida, aceito o fatum como diria Nietzsche. Tudo se movimenta. É a razão por que estamos aqui. Abraçar o destino. A vida. Assumi-la. Não esquivar-se dela. Aceitar cada movimento como se este fosse uma escola multifacetada - que ora mostra um pântano, mas em outros momentos nos apresenta um belo jardim.

Passamos a ser no tempo. Sofremos no tempo. Choramos no tempo. Despedimo-nos de nossos entes e amigos no tempo. Mas amamos, sobretudo, no tempo. Rimos no tempo. Ou seja, a vida brota, floresce e morre no tempo. Eis o campo de batalha. O combate. Zaratustra, o herói nietzscheano afirma algo extraordinário sobre isso:

Tudo vai, tudo volta; a roda da vida gira sem cessar. Tudo morre; tudo volta  a florescer; correm eternamente as estações da vida. Tudo se destrói, tudo se reconstrói, eternamente se edifica a mesma casa da existência. Tudo se desagrega, tudo se saúda outra vez; o anel da vida conserva-se eternamente leal a si mesmo. A todos os momentos a vida principia; ao redor de cada aqui, gira a bola acolá. O centro está em toda parte. O caminho da eternidade é tortuoso. 

Sigamos no fluxo rumo aos 34, pois é o tempo que define o ritmo da nossa existência. É ele que nos conecta com a percepção de tudo aquilo que existe cosmologicamente. Tudo flui. E fecho com Glaiser: "A cada batida de nossos corações, incontáveis insetos saem de seus ovos enquanto incontáveis outros morrem, ondas quebram em todas as praias do planeta e galáxias se distanciam um pouco mais, e estrelas espalhadas pelo Universo nascem e morrem". E eu serei sendo enquanto no tempo estiver.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto! Fico feliz ao saber que o "tempo" modificou sua percepção sobre esta data. Parabéns pelo seu dia! Há quase um terço da sua existência estamos caminhando juntos, no "tempo"... amo isso! Amo você! Bjus!

Carlinus disse...

Obrigado, minha linda! É bom ser no tempo ao seu lado!