terça-feira, outubro 21, 2014

À guisa de um vídeo: os dois brasis e a justificativa de uma escolha política



Se boa parte dos jornalistas desse país tivessem a sua sobriedade, Bob Fernandes, talvez fossemos poupados de tanta ignorância, de tanto ódio de brasileiros contra brasileiros - e, sobretudo, de brasileiros que "têm", contra brasileiros que "nada têm". O que está em cena é aquilo que o velho Marx já nos advertiu há dois séculos: o jogo feroz de uma sociedade contraditória, onde de um lado estão trabalhadores alienados de sua condição humana e os donos de meios materiais de produção do outro lado. O Brasil é uma país que possui feridas que ainda sangram. Suas chagas estão abertas. Os negros, os índios, os nordestinos pobres, as mulheres, as mais variadas minorias ainda não contaram suas respectivas histórias. 

Somos um país de mentalidade machista e patriarcalista. Escravizamos e dizimamos índios; saquemos a fé, os costumes de centenas de povos e hegemonizamos a cultura do europeu. O que nos faz lembrar aquele poeminha do Oswald de Andrade: "Quando o português chegou/ Debaixo duma bruta chuva/ Vestiu o índio/ Que pena! /Fosse uma manhã de sol/ O índio tinha despido /O português". Durante a época da colônia, cerca de 60% do país era constituído por escravos ou descendentes destes. Sempre houve um Brasil do alto, virtual, das elites - que a nova classe média tenta imitar e visualiza pelas novelas da Globo e pela revista "Caras" - e um Brasil debaixo, onde está o povo com suas dores e mazelas. É esse povo que sofre, apanha, é vilipendiado pelo estado. Um estado que em mais de quinhentos anos de história sempre se mostrou feroz e parcial. Ele existe para servir a famílias e a grupos de oligarcas monopolistas, que encontram na mídia impressa e visual, seu escudo, seu "ventilador de ideologias". São desses veículos que são propagados os "ventos envenenados" que entorpecem o povo. Somado esse elemento à nossa história mal contada, temos aquilo que Marilena Chauí chama de "a mosca diante do prato de mel". Talvez isso justifique o meu voto em Dilma Rousseff em detrimento de Aécio Neves. Penso que Aécio representa um outro Brasil, que eu e boa parte dos brasileiros não conhecemos - o Brasil debaixo. Belíssimo vídeo!


2 comentários:

Ramiro Conceição disse...

Caro Carlinus,
post belíssimo.
Sem qualquer dúvida:
domingo, é Dilma!

Saudações
petistas e poéticas.

Carlinus disse...

Grata surpresa, Ramiro!

Temos que fazer uma escolha! Como diz o José Paulo Neto, votamos no PT com o dedo no nariz. Todavia, pela conjuntura, ainda é a melhor escolha!

Grande abraço!