Alguns comentários feitos a
partir da leitura de “Zelota - a vida e a época de Jesus de Nazaré", de Reza Aslam.
1
No geral, Pilatos não realizava entrevistas a
prisioneiros. Ele assinava um documento e o prisioneiro era enviado para a
crucificação. É inusitadamente estranho que a teatralização descrita nos
evangelhos tenha ocorrido. Salvo se os crimes cometidos por Jesus tivessem
adquirido um nível de seriedade tal que demandasse a necessidade de entrevista.
2
Um segundo fato que gera estranheza e um quê de
ficcionalidade é o julgamento de Jesus. Pilatos era conhecido pela sua
indisposição para com os judeus. Ele mandou colocar a imagem de uma águia no
templo, símbolo da supremacia romana, em Jerusalém. Apoderou-se dos tesouros do
templo para construir o aqueduto da cidade. O insólito da história é perceber,
segundo o Evangelho de Marcos (15.1-15), haver um costume durante a festa do
Pessach de se soltar um prisioneiro, uma espécie de indulto. Diz o texto
atribuído a Mateus, que “por ocasião da festa, costumava o governador soltar um
preso, escolhendo o povo aquele que quisesse” (27.15). Não há qualquer registro
histórico dessa prática. Além do mais, é estranho que Pilatos pelo seu aspecto
e personalidade o fizesse. Diz Marcos
que “Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás”. É
simplesmente atípico que assim tenha acontecido. A relação de dureza de Pilatos
para com os judeus chegou a níveis tão dutos, durante os dez anos do seu
governo, que os judeus fizeram uma reclamação a Roma. “Contentar”, “agradar”, não
eram verbos típicos das ações do governador romano. A narrativa desse ponto de
vista é patentemente fictícia. Não haveria possibilidade de Pilatos interferir
ou se ocupar com os ritos e costumes da cultura religiosa dos judeus. Afirmar
que Jesus esteve na presença de Pilatos não é impossível. Talvez, se fosse um
crime extraordinário que assumisse dimensões de grande repercussão, de enorme significação.
3
A descrição do julgamento perante o Sinédrio
demonstra o quanto os evangelistas desconheciam a lei judaica. A Mishna traz os
ritos necessários a qualquer julgamento e eles não eram aplicados em 30 d.C,
quando se deu a crucificação de Jesus. O Sinédrio não se reunia em locais
informais (pátio); não se reunia durante o Pessach; não se reunia à noite; não
se reunia durante o Sabath.
4.
Outro aspecto bastante curioso o fato de os
evangelistas criarem uma imagem de Pilatos como se este fosse completamente
neutro, não tivesse necessariamente responsabilidade com a morte de Jesus. Os
evangelhos se analisados por uma gradação (do mais antigo para o mais recente),
possuem uma evolução de responsabilidade. Quanto mais tardia é a narrativa,
menor é a culpa do governador romano. O mais antigo dos evangelhos é o
atribuído a Marcos. Nota-se que Pilatos realiza a vontade da multidão, incitada
“pelos principais sacerdotes”. Ato contínuo, Pilatos procura “contentar” a
multidão; solta Barrabás; manda açoitar Jesus e, em seguida, entrega-o para ser
crucificado. Em Mateus, nota-se que até mesmo a mulher do governador pede para
que ele não se “envolvesse com aquele justo”. Pilatos para explicitar a sua não
participação na morte do “justo”, lava as mãos num gesto simbólico. O povo
adensa ainda mais a responsabilidade. Chama para si a culpa, deixando implícita
a ideia de que até mesmo os próprios filhos seriam co-responsabilizados para
todo sempre. Lucas afirma que Jesus esteve em duas ocasiões na presença de
Pilatos. E até mesmo Herodes Antipas lhe era simpático. O evangelista delibera
que era “desejo de Pilatos soltar Jesus”, todavia o povo em uníssono, gritava:
“Crucifica-o!” “Crucifica-o!” Pilatos tem, assim, a sua vontade contrariada –
logo Pilatos! João, o último evangelho a
ser escrito, possivelmente em uma data próxima de 100 d. C., avança na
tentativa de culpabilizar os judeus e tirar a responsabilidade de Pilatos e,
assim fazendo, a responsabilidade do estado romano. Os romanos seriam apenas
instrumentos do ódio empedernido dos judeus. João afirma que o governador ficou
“atemorizado”, após saber que os judeus que acusavam tinham uma lei; que Jesus
deveria morrer “porque a si mesmo se fez filho de Deus”. É estranha a afirmação
do evangelista. Pilatos era uma autoridade romana, alguém que fora colocado no
poder pelo próprio imperador. Atemorizar-se com a declaração era, simplesmente,
deixar claro a dubiedade da autoridade de Pilatos. Outro fato estranho é a
afirmação que soaria blasfema para qualquer judeu do I século. Pilatos
pergunta: “Hei de crucificar o vosso rei?” Os “principais sacerdotes” respondem
num gesto inusual: “Não temos rei, senão César”. Tal declaração destoa daquilo
que a história evidencia. Reconhecer que “César era o único rei” significava
comprometer a identidade religiosa dos judeus. Se existe algo que identifica o
povo de Israel é a defesa intransigente de sua religião. Não existe outra
autoridade além de Javé. Havia um zelo fundamental, uma necessidade constante
de reconhecer a soberania da autoridade divina.
Um comentário:
Deus é o único, se ele enviou o filho para nos salvar, por que mataram jesus?
Explane aí para nós leitores
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