quinta-feira, janeiro 31, 2019

Notas sobre “Zelota - a vida e a época de Jesus de Nazaré", de Reza Aslam. II

Tiago é um dos nomes mais importantes da história da Igreja cristã. Após a morte de Jesus, Tiago assumiu a liderança entre os seguidores do “rei dos judeus”. Sua posição de irmão de Jesus deu a ele supostas prerrogativas. O livro de Atos, em seus capítulos iniciais, deixa evidente essa autoridade. Tiago era conhecido como “o justo”, por causa do seu forte senso de verdade e justiça, principalmente para com os mais pobres. 

A teologia de Tiago diverge daquela ensinada por Paulo. Há ressonâncias claras dos ensinamentos de Jesus em seus textos. O curioso é que a liderança de Tiago vai perdendo o protagonismo ao longo das décadas da história da Igreja. No Novo Testamento, há uma carta atribuída à sua pessoa. Certamente, ele não a escreveu. Tiago morreu da década de 60 d. C. e a carta foi escrita entre 80 e 90 d.C. Alguém a redigiu levando em conta o substrato dos seus ensinamentos. Embora não tenha escrito a carta,  conseguimos ouvir a sua voz. A carta é uma paráfrase do seu modo de pensar. É mais fácil chegar a uma teologia que esteja alinhada com o Jesus histórico por intermédio de Tiago, do que por intermédio de Paulo.

A tradição tem identificado, baseado em Mt. 16.16, que Pedro é o patrono da igreja cristã, sendo, inclusive, o seu primeiro papa. Há um panorama lógico que pode explicar esse fato: com a consolidação da relação da igreja com o estado romano, surge a Igreja Católica. Os poderes delegados da condição de papa estão bem próximos daqueles conferidos ao césar, o líder supremo do Império Romano. O catolicismo evidencia a burocratização da Igreja. Muitas teologias foram consolidadas nesse período histórico – o cânon da Bíblia, a Trindade, a dupla natureza de Cristo etc. Uma dessas teologias é a da virgindade permanente de Maria, a mãe de Jesus. Afirmar que Tiago era irmão sanguíneo de Jesus fazia surgir um problema necessário – Maria não seria virgem. Ou seja, perderia o seu status de “mãe de Deus”; de intercessora, conforme é crido no catolicismo.

Segundo Aslam, há motivos para o desaparecimento de Tiago. Uma vez que a presença de Tiago criava um imbróglio teológico, as lideranças de Pedro e Paulo ganharam robustez. Quando da definição do cânon, treze cartas atribuídas a Paulo foram inseridas. A teologia paulina ganhou em a primazia na estruturação do pensamento cristão. Talvez, hoje, estivéssemos em um mundo completamente diferente, caso a ordem natural dos fatos fossem levados em conta.

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