sábado, dezembro 29, 2012

Admirável Mundo Novo, de Huxley, a distopia de um mundo programado

Devo confessar que o estilo de Aldous Huxley não me agradou. Após a leitura de Admirável Mundo Novo, surgiram-me duas visões sobre o escritor inglês.

(1) Aldous Huxley era um sujeito com ideias mirabolantes com um estilo ruim. O enredo de Admirável Mundo Novo é frankensteiniano. A sucessão de fatos segue uma lógica aleatória. Há furos medonhos. Os personagens são psicologicamente fracos. Huxley me trouxe a ideia de que há escritores que, por meio de um golpe de sorte, conseguem o sucesso. Não critico a intelectualidade do inglês, para qual os competidores eram poucos. Refiro-me à prosa de Huxley. Por vários momentos pensei em abandonar o livro. Mas havia algo grandioso ali. O escritor abordava algo elevado.

Refletia sobre a nossa sociedade brutalizada. Colocava-nos diante de uma sociedade distópica e futurista. A invenção habilidosa de algo que está lá, para lançar uma crítica dilacerante a algo que está aqui. Huxley viveu em uma época em que a ideia de totalitarismo e ditadura estava em voga - na Itália, de Mussolini, na União Soviética, de Stálin, na Alemanha de Hitler, na Espanha, de Franco. E nesse sentido, chegamos a um segundo ponto;

(2) Admirável Mundo Novo (Brave New World) foi escrito em 1932. É a obra que consagrou Huxley. Se não estou enganado, tenho aqui em casa Contraponto, A Ilha e O gênio e a deusa. Huxley se notabilizou pelas atitudes que tomou e pela engajamento intelectual. Talvez, no século XX, poucos foram aqueles que travaram de forma tão fremente uma batalha pelo conhecimento e alimentaram uma saciedade espiritual tão marcante quanto ele.

As reflexões suscitadas por Huxley ainda são absurdamente atuais. Que direção estamos tomando? O que é liberdade? A nossa ânsia pela liberdade e o crescente individualismo, não nos levará a um totalitarismo? A falência das religiões não nos levará a uma sociedade cínica? O tecnicismo não nos levará a uma sociedade a qual os valores éticos são negociáveis em nome da felicidade? O hedonismo de uma sociedade amorfa não nos levará a um mundo de aparências e de valores artificiais? Seria possível a invenção de uma droga, um fármaco que propiciasse a felicidade? No livro, existe o soma "para acalmar uma ira, para reconciliá-lo com os inimigos, para o tornar paciente e tolerante" (...) "Um Cristianismo sem lágrimas". (p.287). O soma na obra é o eixo de equilíbrio gravitacional das relações. É a substância produtora de prazer, bem-estar e tradutora dos melhores sonhos.


Essas são algumas das questões levantadas por Huxley em Admirável Mundo Novo. O escritor nos mostra o mundo em que o conceito de autoritarismo ganha nuances complexos. Ainda não vivemos em uma sociedade em que os "selvagens" são aqueles que leem a Bíblia, cultivam os valores da família, rezam e educam os filhos; encontram-se geograficamente isolados, vivendo em colônias. Uma sociedade clean, tecnicamente higienizada do ponto de vista material e social. Uma sociedade dividida em castas, no qual os seres humanos são fabricados. E nesse processo de fabricação são definidos a cor do cabelo, a cor da pele, a cor dos olhos, a capacidade intelectual. Ainda vivemos em um meio complexamente difuso. Mas a obra nos alerta para existência de um mundo despersonalizado, brutalizado pelos valores aritificiais, em que cada indivíduo é programado a sentir, a pensar e a viver de determinada forma. Para a ausência de altruísmo, de sensações daquilo que é belo e que nos comove. 

Ou seja, o livro nos alerta para a possibilidade de programação do ser humano. E a possibilidade da técnica nos tornar em esquizóides, algo deformado, amorfo, sem raízes, sem história. Em suma: quanto mais os níveis tecnológicos avançam, mais o homem se coisifica, mais se bestializa, mas se desperzonaliza, mais tende ao antinatural.

Um comentário:

Dino disse...

O site Vortex fez um podcast muito bom sobre esse livro:
http://www.vortexcultural.com.br/podcast/vortcast-14-admiravel-mundo-novo/