domingo, dezembro 23, 2012

Devaneios ou como se aplica um golpe na consciência I

Isso é algo que tem me perseguido nos últimos dias, mas não devo deixar de verbalizá-lo:

Ao criarem uma religião, os judeus se insurgiram contra as leis naturais. Eles mesmos se elegeram a raça eleita. Criaram a ideia de um deus carrasco, punitivo, egoísta, inimigo da humanidade; compensador de debilidades; patrocinador de extermínios; amante da culpa. Por que somente a religião dos judeus e, mais tarde, o seu mais conhecido derivativo, o cristianismo, deve ser entendida como verdade? É curioso perceber aqui como a história de um povo é sacralizada. Torna-se uma bússola orientadora. É transmitida ao mundo. Como o passado nacional de um povo se torna uma virtude. A base de toda moral. A ofensa contra Yaweh, a mais perniciosa de todas as ações.

Passou-se a medir os destinos do mundo pelos óculos parciais da história dos judeus. A história de Israel siu do plano de um ínfimo acontecimento, para ser a norma de destino do universo. As noções míticas preencheram os espaços vazios de uma época a-científica.

O golpe de misericórdia do judaísmo se deu quando do surgimento do cristianismo. A religião cristã não é uma ruptura do judaísmo, mas a sua consecução. É a sofisticação. O burilamento estilístico. Com o cristianismo, a filosofia grega - leia-se a platônica - consolidou-se como um entedimento para as massas. O platonismo fazia parte do mundo especulativo dos filósofos, mas essa mesma base epistemológica estrutural, foi traduzida para o povo. É  por isso, que Nietzsche vai dizer que "o cristianismo é um platonismo para o povo". Os judeus, assim, trasmitiram a sua psicologia, os seus esquemas mentais, sua visão escatológica para o mundo.

A arma mais poderosa, mais sutil, mais eficaz, forjada pelos judeus não é material - uma espada, uma adaga, um punhal. A arma utilizada para aprisionar, cortar e ferir é a ideia de pecado. Do pecado se extrai a culpa. Explica-se a partir desse fato, a necessidade, de nos cultos cristãos, que exista o momento da contrição; de pedir perdão pelas faltas cometidas. É justamente nesse ato que se consuma a dominação e o poder dessa força abstrata chamada fé.

Em outars palavras: se não existisse pecado não existiria culpa; se não existisse culpa, de outro modo, não haveria fé; e se não existisse fé, não haveria esperança. Pecado, culpa, fé e esperança são nomes que se dão a uma força que predispõe o ser a se submeter - a deus, à igreja, à tradição, aos dogmas, ao sacerdote, à ideia de comunidade. A partir dessa consciência, tudo aquilo que não se coadune ou que não se encaixe ou resvale nessa linguagem é encarado como erro, como heresia, como pecado.

É o que diz, por exemplo, a metalinguagem bíblica do evangelista são João: "... o pecado é a transgressão da lei" (1 Jo 3.4). Qual lei? Ora, a lei escrita pelos judeus como universal, como algo que não se pode ultrapassar - um non plus ultra.

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