sexta-feira, dezembro 28, 2012

Ratos e Homens, de Steinbeck, excelente história

Ratos e Homens, livro de John Steinbeck, escrito em 1937, possui mais do que aparenta ter. É um daqueles livros que se deve ler com um assomo, um gole. Foi o que fiz. Li-o em uma manhã há alguns dias atrás. Comprara o livro numa daquelas seções reservadas aos pockets, aqueles livrinhos viciantes que acabamos comprando cinco ou seis de uma vez, naqueles intantes que nos propomos a namorá-los. 

John Steinbeck, ganhador do Prêmio Nobel no ano de 1962, focou a atenção num dos momentos mais conturbados da história do seu país - a Depressão Americana, aquele momento de falência do capitalismo na década de 30. Durante este período, que é resultado da Grande Crise de 1929, os Estados Unidos e vários outros países do mundo amargaram taxas impiedosas de colapso econômico. Desemprego. Fome. Pobreza excessiva. Recessão. Estagnação. Ausência de perspectivas no campo e na cidade. 

Com isso, a obra de Steinbeck narra de forma muito simples e singela, a história de Lennie e George, duas figuras completamente antagônicas. Os dois perambulam por regiões enormes da Califórnia em busca de trabalho. George é inteligente, franzino, consciencioso; Lennie, em contrapartida, é forte, ingênuo e bobo em excesso. Essas duas personagens vivem o sonho da posse da terra. Almejam ter um lugar onde pudessem viver de forma simples, sem as amarras obrigatórias que existem numa relação trabalhista de exploração. As duas personagens por trás da habilidade de Steinbeck são complementares. George parece ser aquilo qeu falta a Lennie - ou seja, a consciência, a inteligência.

É curioso como Steinbeck, um dos maiores romancistas do século XX, por meio de uma prosa simples, apresenta personagens que são verdadeiras metáforas de um momento histórico - uma mulher que sonha ser uma atriz de cinema e que tem a sua condição vulnerabilizada; é inteligente ao extremo, mas o fato de ser mulher impõe um fardo, uma sina, um carma.

Candy, um velho, que é metaforizado na figura do seu cachoro. Possuía um cachorro tão velho que teve de ser sacrificado. Com isso, Steinbeck quer demonstrar a terrível moral construída por uma sociedade que descarta aqueles seres que não possuem "mais nada a oferecer". A personagem consegue guardar dinheiro e tenciona comprar um rancho com George e Lennie. 

John Steinbeck
Crooks é outro personagem importante da obra. É um negro. Vive à parte. Não possui uma boa relação com os demais personagens. Dos funcionários da fazenda, parece que é o mais instruído. Possui livros. Um código jurídico - o Código Civil da Califórnia, de 1905. Todavia, o que é curioso é que por mais que conheça o código, o valor legal do código não lhe está franqueado. A lei não se materializa com efeitos plenos. Sua condição de negro é vituperante.

Os personagens são verdadeiros tipos. São representações da sociedade. Daquele que foi um dos momentos mais tristes do século XX. Steinbeck com a sua atenção voltada para sujeitos que são relegados, que estão à margem, narra o quanto existe de esperança, de beleza e de sensibilidade na alma da gente simples.

Este é o primeiro livro que leio de Steinbeck. Possuo outros livros dele aqui em minha biblioteca. O principal deles é As vinhas da ira, um dos mais importantes livros da literatura americana do século XX e de leitura obrigatória. Notei a habilidade de Steinbeck para fecundar o final de uma história. Os golpes lancinantes de emoções desferidos para extinguir a história. Após a leitura, ficamos meio bobos e a verbalizar: "Meu Deus!". Steinbeck nos atinge bem no plexo.

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